quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Audiência geral do Papa Bento XVI: a renovação da Igreja não se dá “sem ou contra o Papa, mas só em comunhão com ele”.

O sonho de Inocência III - Giotto

O sonho de Inocêncio III - Giotto

“Vai, Francisco, e restaura a minha Igreja em ruínas.”

Este simples evento da palavra do Senhor ouvida na igreja de São Damião esconde um profundo simbolismo. Imediatamente, São Francisco é chamado a restaurar aquela igrejinha, mas o estado de ruínas daquele edifício é um símbolo da situação dramática e preocupante da própria Igreja naquele tempo, com uma fé superficial que não forma e não transforma a vida, com um clero pouco zeloso, com o arrefecimento do amor; de uma destruição interior da igreja, que envolve também uma decomposição da unidade, com o surgimento de movimentos heréticos.

Todavia, no centro daquela igreja em ruínas está o Crucifixo e fala: convida à renovação, convida Francisco ao trabalho manual para restaurar concretamente a igrejinha de São Damião, símbolo do chamado mais profundo a renovar a própria Igreja de Cristo, com a sua radicalidade de fé e com o seu entusiasmo de seu amor por Cristo.

Este acontencimento, ocorrido provavelmente em 1205, traz à mente um outro incidente semelhante ocorrido em 1207: o sonho do Papa Inocêncio III. Ele vê em sonho que a Basílica de São João de Latrão, a igreja mãe de todas as igrejas, está desmoronando e um pequeno e insignificante religioso sustenta em seus ombros a igreja para que não caia.

É interessante notar, por um lado, que não é o Papa que dá o auxílio para que a igreja não desabe, mas um pequeno e insignificante religioso, que o Papa reconhece em Francisco que lhe visita.

Inocêncio III foi um Papa vigoroso, de grande cultura teológica, como também de grande poder político, no entanto não é ele que renova a Igreja, mas o pequeno e insignificante religioso: é São Francisco, chamado por Deus.

Por outro lado, contudo, é importante notar que São Francisco não renova a Igreja sem ou contra o Papa, mas só em comunhão com ele. Os dois realmente caminham juntos: o Sucessor de Pedro, os bispos, a Igreja fundada sobre a sucessão dos Apóstolos e o carisma novo que o Espírito Santo cria naquele momento para renovar a Igreja. Ao mesmo tempo cresce a verdadeira renovação.

O Pobrezinho de Assis havia compreendido que cada carisma é dado pelo Espírito Santo a serviço do Corpo de Cristo, que é a Igreja; por isso agiu sempre em plena comunhão com a autoridade eclesiástica. Na vida dos santos não há contradição entre o carisma profético e o carisma de governo e, se alguma tensão vem a se criar, eles sabem esperar com paciência o tempo do Espírito Santo.

[...]

Em 1219, Francisco obtém permissão para ir falar, no Egito, com o sultão muçulmano Melek-el-Kamel, para pregar também lá o Evangelho de Jesus.

Desejo enfatizar este episódio da vida de São Francisco, que tem uma grande atualidade. Numa época em que estava em curso um confronto entre o Cristianismo e Islã, Francisco, armado voluntariamente apenas de sua fé e de sua mansidão pessoal, percorre com eficácia a via do diálogo.

As crônicas nos falam de uma acolhida benévola e cordial por parte do sultão muçulmano. É um modelo ao qual ainda hoje devemos inspirar as relações entre cristãos e muçulmanos: promover um diálogo na verdade, no respeito recíproco e compreensão mútua (cf. Nostra Aetate, 3).

[...]

Francisco sempre mostrava uma grande reverência para com os sacerdotes, e recomendava respeitá-los sempre, mesmo no caso em que fossem pessoalmente pouco dignos. Trazia como razão para este profundo respeito o fato de terem recebido o dom de consagrar a Eucaristia. Caros irmãos no sacerdócio, não nos esqueçamos nunca deste ensinamento: a santidade da Eucaristia nos chama a ser puros, a viver de forma coerente com o mistério que celebramos.

Fonte: Excertos da audiência geral do Papa Bento XVI de hoje, 27 de janeiro de 2010.

Visto em: Fratres in unum

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